Mestre de capoeira vence a paraplegia e trabalha pela inclusão social
A coluna Bate Papo conta a história de um mestre da capoeira que ficou tetraplégico por causa de uma bala perdida, e transformou o sofrimento em superação e solidariedade.
Um professor de educação física e mestre de capoeira superou em cinco anos a tetraplegia. Hoje, ele desenvolve trabalhos sociais visando à inclusão social de crianças e jovens. A história surpreendente de Éverton Batista, o Mestre Fanho, é o tema da entrevista de hoje, de Edney Silvestre, para a coluna Bate-Papo. Assista o vídeo…
Éverton Batista, conhecido como Mestre Fanho, era professor de capoeira, conhecido e respeitado, quando foi alvejado por uma bala perdida. Quase morreu, ficou tetraplégico, mas reagiu, vem se recuperando e hoje usa essa experiência para ajudar outras pessoas.
Edney Silvestre – Você andava na rua. De repente, levou dois tiros e ficou tetraplégico. Como foi essa história?
Mestre Fanho, professor de educação física e mestre de capoeira – Eu estava saindo da academia. Era um sábado, 17 de março de 2005, fui complementar o meu treinamento e estava correndo. Chegando em casa, ouvi estampidos. Eu achei que fossem fogos de artifício, por ser um local festivo. E era um tiroteio entre polícia e bandido. Eu fui socorrer um garoto que pedia ajuda e fui alvejado. Quando fui alvejado, eu senti aquele calor, cai tetraplégico. Percebi que tinha sido alvejado e que pela extensão da paraplegia, até soube naquela hora que havia sido a nível de cervical.
Você também era professor de educação física e conhecia toda essa fisiologia?
Já tinha mais ou menos essa noção. Imaginei que naquele momento tive contato com um poder superior e pedi para me dar mais um chance de continuar vivo. Eu sangrei durante 45 minutos.
Você não sentia as pernas? Não sentia nada?
Não sentia nada. Sangrei 45 minutos até chegar o primeiro atendimento. Fui transportado, até inadequadamente, mas isso é outra história. E fui atendido no hospital que é em frente à minha casa, o Hospital do Andaraí. Foi a minha sorte.
Essa é a parte física. E por dentro? E o desespero que você sentiu tantas vezes? Essa é uma luta difícil…
Muito difícil. Não vou dizer que superei todo os questionamentos emocionais que envolvem isso. Eu ainda os tenho. Mas essa superação é dia a dia. Eu entendi que não dá para eu, ficando paraplégico, amanhã sair correndo. Primeiro eu tenho que mexer um dedinho. Então, essa luta também é emocional, também é diária. Então, tentando não me levar tão a sério assim, tentando melhorar, tentando entender que hoje eu estou melhor do que ontem, eu fui melhorando nesse aspecto também. A capoeira me ajudou, dar aula me ajudou, os alunos me ajudaram.
Essa sua espera com a tetraplegia, ajudou também na aulas para pessoas que têm limitações físicas.
Ajudou um tempo, quando eu fazia esse trabalho. De certa forma, eles viam a minha superação como um exemplo também. Hoje em dia, já não faço esse trabalho, especificamente, com deficientes físicos, embora ache isso muito bonito. E há muitos capoeiristas deficientes e há também muitos capoeiristas que fazem trabalho com deficientes. Eu tento entender que hoje em dia eu tenho qualidades que antes eu não tinha. Eu vislumbro coisas dentro do próprio jogo de capoeira que eu não tinha tempo de vislumbrar, porque eu queria ser aquele atleta de performance, que hoje em dia eu não posso ser. Eu compenso com outras coisas, analiso outros aspectos psicológicos do próprio jogo e reações da musicalidade em que eu não reparava tanto assim. Então, as coisas têm a sua compensação. Talvez, isso tenha vindo por algum motivo. Se eu de alguma forma servir para dar exemplo para alguém se recuperar, seja física ou emocionalmente, já valeu um pouco dessa luta toda. Agora, essa luta continua. Eu fiz um concurso e passei para Nova Iguaçu. Hoje em dia eu dou aula de educação física lá. É uma outra forma de eu atuar também e uma forma de eu dizer para eles que é possível se superar. O pessoal fala muito da minha superação física, mas essa emocional é muito mais difícil. A frustração de querer ser o que te impuseram para ser e você não poder ser mais. Mas eu posso ser coisas melhores também. Posso ser melhor em muitas outras áreas. Eu estou tentando dar esse exemplo nos diversos seguimentos a que eu tenho acesso.
Assista o vídeo abaixo:
Fonte: http://rjtv.globo.com/ (06/03/2010)
Gostei muito Vera!
Vivendo e aprendendo.
Bjs.
Muito bacana a entrevista, não é?
Beijos, Fátima!
Vera
Pois é mano velho! Os seus conhecidos e ou amigos de sua escolha, ainda estão por aqui. Produrá-los para dar um "dedinho de prosa" é salutar.Isolar-se, esperando que o procure, nunca foi a melhor forma de compreensão da vida, pois, na capoeiragem ninguém nos telefona para fazer a simples pergunta "como vai, voce está bem", porém, quando o fazem é para nos convidar para um evento, principalmente com a intenção de abrilhantá-lo atravé de nosso prestígio na capoeiragem. Então, saia do pote e venha para a capoeiragem de fato, aqui é a sua verdadeira casa, aqui será compreendido, aqui a vida lhe será mais iluminada, continue cantando sua história nas rodas. Esta sim será o retrato de sua superação.
Isso sim é uma história de superação!
Eu acho que deveria ter mais centros de especializados em ajudar pessoas deficientes espalhados pelo mundo. Aqui, onde eu moro, no Paraná, é muito difícil de achar.
"Você que está triste, achando que o mundo acabou, levante sua cabeça e começe a superar os seus obstáculos. Deus quer ver você lutando e quer te ajudar. Por isso, aceite a ajuda dele."Zezo, falecido cadeirante, no programa do Ratinho(Eu coloquei umas coisinhas a mais.).
Enfim, Amei a reportagem! Beijos!
Realmente é uma grande história de superação, Rebecca!
Mestre um grande abraço!