"Meu filho tem asperger, sim. Qual o problema?"
Nada de preconceitos. É preciso conhecer melhor a Síndrome de Asperger para entender que os “aspis” precisam mesmo é de atenção, de compreensão, de cuidado, de paciência e de sorrisos. Muitos sorrisos…
Quem observa Levi, 6, abraçado ao irmão Davi, 4, não tem ideia do significado vitorioso do gesto para os pais. Com dois anos, o menino Levi “ainda não falava, era extremamente nervoso, passava o tempo todo rodando ao redor de uma lâmpada, ficava dois dias sem dormir, tinha crises todos os dias, com movimentos repetitivos, batendo a cabeça na parede, não olhava nos olhos, detestava o toque”, descreve a mãe – a assistente social, Cristiane Bastos Andrade, 42.
Até chegarem ao diagnóstico de Síndrome de Asperger para Levi, e o “milagre de bom desenvolvimento dele, nos últimos anos”, a peregrinação foi grande. O irmãozinho, Davi, de quatro anos, está com suspeitas de ter o mesmo diagnóstico, mas os pais já estão mais bem preparados. “No começo, você tem vontade morrer. As pessoas olham também como se fosse o fim, mas, agora, sabemos que não é bem assim”, pondera Cristiane.
Na busca por explicações para o comportamento inicial do filho, os pais se depararam com o diagnóstico de esquizofrenia. “Foi muito doloroso. Chegaram a nos dizer que ele jamais estudaria e que eu me conformasse porque chegaria um dia em que eu teria que amarrá-lo no fundo do quintal”. Grávida do filho mais novo, o marido e ela decidiram não se acomodar e continuaram buscando ajuda.
Aos dois anos e meio de Levi, encontraram médicos que souberam analisar melhor o caso. “Primeiro, nos falaram do autismo, logo depois disseram que ele tinha Asperger. Você fica preocupada, claro, mas depois vem o alívio porque, a partir dali, a gente sabe que vai saber cuidar dele”, narra Cristiane. E vieram as melhoras: a fala, o controle das crises, o desenvolvimento na escola. “Uma das grandes felicidades foi quando ele deitou com a gente na cama pela primeira vez, aos três anos. Ele nunca deixava a gente abraçar, tocar nele. Aquele momento foi marcante”, relembra.
A atenção ao mais novo
Enquanto cuidavam do filho mais velho, não se davam conta de que o mais novo também apresentava atrasos. “Os médicos chamaram atenção da gente porque o Davi não falava aos três anos”. Eles explicam que nenhum diagnóstico está fechado ainda, mas, com algumas diferenças do quadro que o irmão apresentara, é provável que Davi também tenha Asperger.
O neurologista André Luiz Pessoa adianta que por Síndrome de Asperger apresentar muitas características que possibilitam evoluções relevantes de tratamento, ao longo dos anos, é possível que o diagnóstico não seja mais considerado um transtorno de espectro autista. Algumas mães ouvidas por O POVO reforçam que, ainda que os filhos tenham sido diagnosticados como Asperger, eles têm pouco do autismo clássico. “Já se sabe muita coisa, mas ainda há muito a ser descoberto sobre eles”, avalia o médico André Luiz.
Cristiane, mãe de Levi e Davi, diz, inclusive, que Levi já está mais sociável e os carinhos lhe são muito, muito mais bem-vindos que antes. “Não apenas meu filho, mas os ‘aspis’ que eu conheço são crianças doces, carinhosas”.
A diferença dos filhos diante das outras crianças não esmorece Cristiane e o marido. “Passamos a compreender a força do amor e o milagre que ele pode fazer. A pior coisa é negar que existem problemas. Não pode. Hoje, quando me perguntam se há algo errado com Levi, eu respondo. ‘Meu filho tem Asperger sim. Qual o problema?’. Porque aprendi que são as características deles, não são defeitos. É o jeito deles. Se você nega, você não cuida. Se não cuida, eles sofrem. E isso é o que eu menos quero”, ensina Cristiane. (Sara Rebeca Aguiar)
Saiba mais
Associação Cearense da Síndrome de Asperger (Ascesa)
Foi criada em setembro de 2011. Pais e familiares reunem-se no primeiro sábado de cada mês para o acolhimento das angustias e troca de experiências das dificuldades enfrentadas pelas crianças em seu processo de adaptação aos padrões exigidos pela sociedade.
Seus membros discutem constantemente estratégias com escolas e outros ambientes de convivência das crianças, para que eles sejam locais de inclusão.
Atualmente, a Ascesa está em processo de preparação do site da Associação e da 1ª Jornada Cearense da Síndrome de Asperger, prevista para iniciar no próximo dia 1º de junho.
Como ainda não tem sede própria, as reuniões são realizadas na clínica Althea, na rua Martinho Rodrigues, 191, Bairro de Fátima (Fortaleza).
A Síndrome de Asperger é mais comum do que imaginamos. Problemas para interagir socialmente e para entender o sentimento do outro são as características mais fortes de quem possui a síndrome. É preciso conhecimento para combater o preconceito.
Veja o gráfico: Você tem um filho asperger?
Fonte: O Povo Online, Jornal de Hoje
tenho 1 filho com sindrome de down , e 1 sobrinho asperger , sao 1 bençao de deus , uns amores