Mídia e deficiência: Quando utilizarão a terminologia correta?
De acordo com Romeu Sassaki*, “a terminologia correta é especialmente importante quando abordamos assuntos tradicionalmente eivados de preconceitos, estigmas e estereótipos, como é o caso das deficiências…”. Sassaki alerta que: “No Brasil, tem havido tentativas de levar ao público a terminologia correta para uso na abordagem de assuntos de deficiência a fim de que desencorajemos práticas discriminatórias e construamos uma verdadeira sociedade inclusiva”.
Entretanto, infelizmente, o termo “portador de deficiência” é usado constantemente pela maioria dos jornais, revistas, programas de televisão, rádio e outros . Veja abaixo, uma boa justificativa para o não uso da palavra “portador”.
“EU PORTO OLHOS AZUIS”
Apesar de seu crescente uso da mídia, na educação e na legislação, a palavra “portador” deve ser evitada, sendo utilizada apenas quando a mídia está reproduzindo falas de um profissional ou trechos de documentos.
De acordo com o que está descrito no Manual da Mídia Legal, editado em novembro de 2002 pela Escola de Gente em parceria com o Ministério Público Federal, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Rede ANDI, existem vários argumentos para não nos utilizarmos desse vocábulo:
- Pessoas não necessariamente carregam suas deficiências nas costas, como um fardo e, de vez em quando, descansam delas para conseguir um trabalho mais bem remunerado, por exemplo.
- Não nos utilizamos de expressões como “portador de olhos azuis” (porque também não há como dissociarmos os olhos da pessoa).
- Essa palavra não cria relação de direito-dever entre pessoas com e sem deficiência, porque não divide responsabilidades. É como se a deficiência não fosse uma questão da sociedade, apenas um problema do “portador” e de seus familiares.
De acordo com Romeu Sassaki, o termo correto é pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popular,acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de deficiência (e suas flexõesno feminino e no plural). Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência. Aprovados após debate mundial, os termos “pessoa com deficiência” e “pessoas com deficiência” são utilizados no texto da Convenção Internacional de Proteção e Promoção dos Direitos e da Dignidade das Pessoas com Deficiência, em fase final de elaboração pelo Comitê Especial da ONU.
*Consultor de inclusão social e autor dos livros Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos (5.ed.,Rio de Janeiro: WVA, 2003) e Inclusão no Lazer e Turismo: em busca da qualidade de vida (SãoPaulo, Áurea 2003).
Fontes: : Mídia e deficiência / Veet Vivarta, coordenação. – Brasília: Andi ; Fundação Banco do Brasil, 2003.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, São Paulo, ano 5, n. 24, jan./fev. 2002, p. 6
Veja:
Excelente tema
Essa história de "portador" chega a cansar
às vezes parece até que a gente é traficante de deficiência!!!