Depoimento: Minha filha tem paralisia cerebral e fez cirurgia de gastrostomia
Minha filha Andreza, 43 anos, tem paralisia cerebral espástica. Desde o seu nascimento se alimentou via oral dentro de um processo “normal”. Entretanto com o passar do tempo começou um processo de tosses seguida de engasgos. Eu e minha esposa levamos, várias vezes, nosso filha ao hospital pensando que tudo se resolveria. Não tínhamos conhecimento sobre esse assunto e insistíamos que a alimentação da Andreza fosse via oral, apesar dos médicos orientarem sobre uma cirurgia de gastrostomia. Até que surgiu a primeira pneumonia e com o passar dos anos outras pneumonias.
Para quem não sabe, gastrostomia é uma cirurgia realizada para a colocação de um pequeno tubo flexível, conhecido como sonda, através da pele da barriga diretamente até ao estômago, para permitir a alimentação e fornecimento de nutrientes nos casos em que a pessoa não consegue se alimentar pela boca, como era o caso de Andreza. Essa cirurgia só é indicada quando o intestino está funcionando corretamente para absorver os nutrientes.
Eu e minha esposa pensávamos que estávamos fazendo o correto e resistíamos a realização dessa cirurgia por duas razões, primeiro porque toda cirurgia é um risco e segundo queríamos que nossa filha continuasse se alimentando da forma natural. Até que houve a última pneumonia em razão de bronco aspirações, o que acabou levando a Andreza para a UTI por mais de trinta dias. Os médicos juntos com os fonoaudiólogos conversaram novamente conosco e disseram que a cirurgia de gastrotomia era necessária, por fim concordamos que essa cirurgia era realmente necessária.
Andreza fez a cirurgia e graças a Deus e aos médicos tudo deu certo. Ficou internada durante uns dias devido a uma infecção de urina e pela necessidade de fortalecimento de seus pulmões. Recebeu alta, as orientações necessárias para cuidarmos dela em casa, e também vai ter suporte de homecary.
No caso de Andreza, através de um plano de saúde, conseguimos em pouco tempo, a realização de sua cirurgia. No entanto conversando com uma mãe, ela me disse que está esperando mais de dois anos por uma cirurgia de gastrotomia. Fico imaginando quantos pais, nesse momento, estão aflitos e ansiosos para que seus filhos possam passar por esse tipo de cirurgia. Realmente o sistema de saúde público brasileiro é muito cruel com os menos favorecidos. É muita falta de sensibilidade e de respeito, uma vez que todos nós contribuímos pela manutenção desse sistema.
Imagem: Andreza e a irmã Andrélia após cirurgia de gastrostomia (Arquivo Pessoal)
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