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Não Somos ‘Idiotas’ Nem ‘Imbecis’: A Luta Contra o Preconceito Oficial

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Sou uma pessoa com deficiência e já senti na pele o peso do preconceito. Sei como é ser reduzida a um rótulo, ser tratada como incapaz e ignorada por quem deveria defender meus direitos. Por isso, quando vi que o governo de Javier Milei trouxe de volta termos como “idiota”, “imbecil” e “débil mental” para falar sobre pessoas com deficiência intelectual, fiquei indignada. Essa decisão não foi apenas um erro técnico ou um deslize. Ela mostra como o preconceito ainda está presente em nossas sociedades.

Essas palavras são de uma época em que pessoas com deficiência eram vistas como um problema, como alguém que não tinha valor na sociedade. São termos que machucam e reforçam a ideia de inferioridade. Quando um governo decide usá-los novamente, ele reforça uma visão ultrapassada e cruel.

Depois da repercussão negativa, a Agência Nacional de Deficiência (ANDis) disse que foi um erro e que vai reformular a resolução. Mas palavras, uma vez ditas ou publicadas, não podem ser apagadas. O dano já foi feito. Quando uma autoridade usa termos ofensivos, ela reforça a ideia de que pessoas com deficiência não merecem respeito. Isso contribui para o preconceito que já enfrentamos todos os dias, no trabalho, na escola e até dentro de casa.

O Problema Não É Só na Argentina

Infelizmente, isso não acontece só na Argentina. No Brasil, o governo pode não usar esses termos oficialmente, mas o desrespeito continua. A acessibilidade ainda é vista como um favor, e não como um direito. A educação inclusiva é fraca. No mercado de trabalho, muitas vezes somos tratados como incapazes ou apenas como exemplos de superação, sem que levem em conta nossa formação e habilidades. Além disso, há pouca representação de pessoas com deficiência na política e as políticas públicas ainda são insuficientes.

O preconceito contra pessoas com deficiência está presente em todo lugar. Ele aparece de diferentes formas: desde olhares de pena até leis que não garantem nossos direitos. Mas quando esse preconceito vem de líderes políticos, ele se torna ainda pior. Um presidente ou um parlamentar que usa termos ofensivos não só mostra sua visão ultrapassada, mas também influencia toda a sociedade a pensar da mesma forma. Isso não afeta apenas um indivíduo, mas contribui para a exclusão de milhões de pessoas.

Precisamos de Respeito e Ação

É inacreditável que, em pleno século XXI, ainda tenhamos que lutar para que nosso valor seja reconhecido. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que a Argentina assinou, fala sobre respeito, autonomia e inclusão. O uso de termos ofensivos vai contra tudo isso e reforça uma visão médica ultrapassada da deficiência, ignorando as barreiras sociais que nos impedem de ter uma vida plena.

Nossa luta não é apenas por palavras mais bonitas. Queremos respeito e ações concretas. Queremos um mundo onde nossa dignidade não dependa da vontade dos governantes. Por isso, precisamos continuar denunciando situações como essa e exigindo que os líderes políticos sejam exemplos de inclusão e respeito. O governo Milei pode até corrigir o documento, mas esse episódio mostrou que ainda temos um longo caminho para acabar com o preconceito nas leis e na sociedade.

Agora é hora de transformar nossa indignação em ação. Precisamos ocupar espaços, lutar por nossos direitos e garantir que nenhuma decisão sobre nós seja tomada sem a nossa voz. E, acima de tudo, precisamos lembrar – e lembrar ao mundo – que não somos menos capazes, menos dignos ou menos humanos. Somos pessoas completas, com direitos que não podem ser negados. E não vamos aceitar nada menos do que isso.

Por Vera Garcia

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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