“Não tenho braços, mas sinto eles ali ao dançar”, diz bailarina clássica
“Sempre gostei de dançar: desde criança, era só ouvir uma música que já saía rodopiando pela casa. Pelo fato de ter nascido sem os braços, era parte da minha rotina de infância fazer fisioterapia na cidade em que nasci, Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. Percebendo meu gosto pela dança, aos cinco anos, uma profissional da área indicou para minha mãe que eu começasse também a fazer aulas em uma academia. A partir dali, teve início a minha relação de amor com o ballet.
De cara, minhas professoras ficavam inseguras com a situação: ter alguém com o corpo diferente na turma era algo novo para elas. Principalmente, porque uma parte importante da dança é manter sempre os braços firmes e suaves. A sorte é que desde muito nova já sabia dar o meu jeitinho e aprendi a acompanhar os movimentos com a cabeça e também com o olhar.
O tempo foi passando e fui me apaixonando cada vez mais pelo ballet. Mas preciso confessar que nem sempre foi fácil: em muitos momentos, senti insegurança. Principalmente quando migrei para a sapatilha de ponta: achei que não seria capaz de acompanhar as demais alunas e que teria que voltar ao nível anterior. Isso, porém, nunca aconteceu. Pelo contrário, fui aprimorando cada vez mais as técnicas e hoje participo de apresentações anuais e festivais.
Cheguei a receber a certificação máxima (ouro) da Royal Academy of Dance, depois de passar por uma avaliação. No dia da minha apresentação, a avaliadora, que veio de Londres agradeceu por ter conhecido uma menina tão sorridente quanto eu e disse que era como se conseguisse ver meus “braços invisíveis” durante a apresentação.
A frase me marcou muito, porque é assim que me sinto: como se eles estivessem ali enquanto danço.
Hoje me inspiro em grandes bailarinas, como Ana Botafogo e Ingrid Silva, e tenho o sonho de fazer faculdade de dança, porém, ainda não sei no que desejo me especializar. Antes da pandemia começar, ia todos os dias ensaiar e fazia três tipos de aula: sapateado, jazz e ballet. Não gosto de redes sociais, mas as pessoas me procuram Não sou a maior fã de redes sociais: até pouco tempo, meu celular nem tinha espaço suficiente para que eu baixasse o Instagram. Porém, acabei criando uma conta através do aparelho da minha professora e me surpreendendo com o número de pessoas interessadas em me conhecer, ver meu trabalho e saber mais sobre a minha rotina.
Recebo muitas mensagens de carinho e fico extremamente feliz quando alguém diz que sou uma inspiração. Algumas ficam até curiosas para saber como faço as coisas do dia a dia, como comer ou escrever, e explico que uso meus pés. Hoje não ligo tanto para esse tipo de pergunta, mas já existiu uma época em que evitava principalmente os lugares com crianças, porque sabia que elas ficariam curiosas e fariam todo tipo de pergunta, até para a minha família. Hoje, com quase 70 mil seguidores no Instagram, gosto de usar o espaço para publicar vídeos dançando. A dança significa muito para mim, porque através dela eu conheci pessoas, criei laços e percebi que posso tudo. Se eu tiver muita fé e acreditar, sei que posso chegar muito longe e, o melhor, fazendo sempre aquilo que faz meu coração bater mais forte.
Fonte:https://www.uol.com.br/universa