Ônibus para todos!
Por Deborah Prates
Diariamente Direitos Humanos são desrespeitados sem que tenhamos consciência desse desastre humanitário. Dessa feita venho fazer um rápido “tour” sobre o panorama dos ônibus nesse nosso Brasil.
Ninguém tem dúvida de que direito ao transporte com qualidade é garantido pela Carta Cidadã, né? Também temos consciência de que os empresários de empresas de ônibus maltratam a população; que os Srs. Gestores aparentam não estar nem aí para a catastrófica situação, né? Mas e nós – usuários e telespectadores desse filme de horror – o que fazemos?
Habitualmente a mídia noticia a falta de segurança nos ônibus. Desleixo no cumprimento das normas básicas de segurança; motoristas que falam ao celular com uma mão, tendo a outra na caixa de marcha, ficando o volante a Deus dará; centenas de multas por excesso de velocidade; condutores grosseiros e sem qualquer preparo para o trato com a sociedade; avanço no sinal fechado; veículos caindo aos pedaços …
Por outro lado os maus empresários tratam os motoristas na pressão; valendo dizer no limite do stress. As rotas têm que ser completadas num tempo “x”; dispensaram cobradores de sorte que um único empregado é obrigado a fazer troco, dar informações diversas, prestar atenção na cigarra … Tudo para que a diferença entre a receita e a despesa fique cada vez maior.
Noutro ângulo a população fica sem alternativa. Em inúmeras situações só resta o ônibus como transporte de massa. A irresponsabilidade dos gestores, somando-se ao espírito de proveito desmedido dos empresários é que fica a indagação: A que lugar pretendemos chegar? Quem ou quais são os culpados por toda essa bagunça social?
A grosso modo, para o caso, uma concessão é uma atribuição dada pelo poder público às empresas de ônibus, mediante contrato, para a exploração de serviço público. Uma das condições é que esse serviço seja de boa qualidade. Todavia, notório é que nenhum aprazimento tem os munícipes ao pegar um ônibus. Voltemos o foco para a pessoa com deficiência. Do nada, decidiu-se padronizar as cores dos veículos sem consultar, por exemplo, os usuários de baixa visão, analfabetos, e outros seguimentos da população que se guiavam pelas cores, de modo que esse desrespeito passou a fazer muita diferença. Apesar das reiteradas reclamações dos deficientes visuais, até mesmo em audiência pública na ALERJ, absolutamente nada fora feito. Aliás, nem compareceram os empresários!
Para os deficientes físicos a condição não é diferente. Os elevadores para a interiorização das cadeiras de rodas não funcionam. Uma humilhação perceber os cadeirantes serem carregados, amputados de suas pernas – escancaradamente – pela ambição desmedida dos agentes econômicos.
As condições físicas dos coletivos são surreais. Bancos desparafusados dando a sensação do brinquedo montanha russa; vidros soltos lembrando repiques de bateria; ferros de apoios balançando; pisos tufados ….Viveiros de insetos! Baratas francesinhas, pulgas, moscas, larvas; todos dentro do contexto frenético que já nos acostumamos.
Em abril/maio os meios de comunicação – repetidamente – noticiaram atropelamentos de ciclistas pelos irracionais motoristas de ônibus. É um jogo de empurra empurra danado! Condutor diz que é culpa do ciclista que saiu fora da ciclovia; já as pessoas que praticam o ciclismo afirmam serem os condutores monstruosos. Autoridades e empresários se omitem deixando a “banda” passar.
Pois é, como permitimos que a ditadura da moda nos transformasse em tecnumanos é que paramos de pensar. A irracionalidade envolvendo o direito ao transporte e a qualidade de vida deixa transparente que necessitamos de conscientização sobre o tema. Você que me lê dirá: Isso não é dever do gestor? E eu interatuo: Mas se ele nem sabe que erra, como corrigir a rota do navio? Notadamente estamos a deriva. Nem os ônibus escolares escapam das multas por excesso de velocidade!
Diletos amigos de caminhada, a tábua de salvação dos horribilíssimos fenômenos anteriormente citados tem um nome:
“ACESSIBILIDADE ATITUDINAL”
Convido-os ao cargo de MULTIPLICADORES da rede da solidariedade. Falo de sentimento; de nos colocarmos na pele do usuário de ônibus. Emoção há que ser vivida, suada/transpirada a tal maneira que o semelhante – à distância – sensibilize-se.
Deixo-os na suave companhia do amigo Kant:
“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”.