Paciente tetraplégica deixa hospital depois de 13 anos
A mais antiga moradora do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (313 km de SP), Karina Aparecida Chicória, 27, tetraplégica desde os 14 anos, teve alta ontem.
Karina Aparecida Chicória havia passado os últimos 13 anos internada, presa a uma cama, após receber uma facada na nuca que atingiu a medula cervical durante uma briga com uma colega que traficava drogas.
Para ser liberada, toda uma estrutura com equipamentos hospitalares foi instalada na sua casa.
“Não via a hora de ir. Tudo graças ao respirador que o Estado enviou, à ajuda do pessoal do HC e também porque minha mãe poderá ficar em casa para cuidar de mim”, disse ela.
Os problemas de Karina começaram quatro meses antes de completar 15 anos, quando ela se envolveu com uma garota que cuidava de um ponto de drogas.
Por R$ 80, ela aceitou vender 28 papelotes de cocaína para uma colega que precisava ver o namorado na prisão. “Eram 8h quando vendi um deles [papelote] para um cliente, mas depois percebi que só estava com 26 papelotes guardados na calcinha. Havia perdido um”, conta.
Com medo, Karina tentou disfarçar a perda tirando um pouco de cocaína dos outros papelotes para formar um novo, mas foi descoberta.
A colega, furiosa, atacou Karina com uma faca.
Vida no Hospital
Depois de uma cirurgia de oito horas, foram 18 dias em coma e seis meses em um Centro de Terapia Intensiva. “Acordei com minha mãe me chamando. Eu me lembrava de tudo. Só xingava e queria me vingar”, diz.
Karina diz que se sentia revoltada de ter ficado paralisada e pensou em suicídio. “Há dois anos, me mudei para esse quarto, sem janela. Fica no fim do corredor. Entrei em uma depressão feia.”
Mas hoje, afirma, está feliz por voltar para casa. Karina faz pinturas, está escrevendo um livro sobre sua vida e, há três anos, criou um jornal-mural na unidade hospitalar. Tudo apenas com a boca.
“A internet me ajuda também. Tenho Orkut, MSN. Até o cantor Belo, que é meu ídolo, já veio me visitar”, diz Karina, que, antes da internação, havia parado de estudar na 3ª série. No hospital, ela conseguiu terminar o ensino fundamental e planeja se formar em jornalismo.
Ontem, os funcionários do hospital fizeram uma festa de despedida. Pouco antes de perder os movimentos, os pais de Karina também planejavam uma festa surpresa para celebrar seus 15 anos – mas ela não pôde realizar o sonho de ter uma comemoração com luzes e DJ.
“Planejei como seria essa festa de despedida: as fotos projetadas em um telão, a música de fundo. Até mandei o convite para cada um.”
Fonte: Folha de S. Paulo (30/03/11)
Referência: Rede Saci