Pessoas com Síndrome de Down provam que podem correr atrás de seus sonhos e alcançar muitas vitórias
Caro leitor,
A matéria abaixo foi extraída da Revista Metrópole (Jornal Correio Popular), cidade de Campinas, SP. Uma homenagem ao Dia 21 de Março – Dia Internacional da Sindrome de Down
Por Karina Fusco
Eles querem voar mais alto
Victor já participou de um filme e estrelou uma campanha de abrangência nacional. Giovanna faz apresentações de música e de dança com frequência e cursa massoterapia. Fábio representou o Brasil em uma olimpíada nos Estados Unidos e já subiu ao palco com cantores famosos. O que os três têm em comum, além da Síndrome de Down – uma alteração genética advinda da presença de um cromossomo a mais –, é a garra para correr atrás de seus sonhos e provar que as conquistas são possíveis. Com isso, enchem de orgulho familiares e amigos e encorajam outras pessoas com a mesma alteração genética a enxergar que a superação está logo ali, basta querer alcançá-la.
Nesta quinta-feira (21), exemplos positivos como os desses jovens darão mais destaque às comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down. A data foi instituída em 2006, mas só em 2011 foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e incluída no calendário oficial de 193 países. O dia 21 foi escolhido em alusão à trissomia do cromossomo 21, que gera a síndrome.
A repercussão e o sucesso do filme ‘Colegas’, de Marcelo Galvão, também mostram a necessidade de um novo olhar para pessoas com síndrome de down, sobretudo em relação às suas capacidades. Na opinião da diretora pedagógica do Centro de Educação Especial Síndrome de Down (CEESD), Elenir Santana Moreira (foto ao lado), nos últimos anos a evolução se deu de forma ampla nos campos social, educacional e profissional. “Ainda existem muitos mitos sobre os downs, como achar que eles são sempre bonzinhos e, por isso, acabam infantilizando-os”, afirma. “Mas as oportunidades no mercado de trabalho ajudam a mostrar o potencial deles e ainda proporcionam-lhes a realização de seus sonhos. No futuro, isso tende a melhorar”, avalia.
A presidente e uma das fundadoras da Fundação Síndrome de Down, Lenir Santos (esq.) vê com muito ânimo o cenário atual, no qual há diversas pessoas com a síndrome trabalhando, namorando, viajando, fazendo compras e, em alguns casos, até se casando ou morando sozinhas.
“Ficar trancado em uma instituição ou em casa traz perdas a qualquer pessoa, imagina para quem tem algumas dificuldades. É lógico que os downs têm uma limitação, mas eles também têm outras capacidades”, ressalta. “Quanto mais se acredita e se dá oportunidade, mais eles mostram seu potencial”, completa.
A fama chegou
Quando era pequeno, Victor Azevedo Andreucci, de 34 anos, sonhava em ser um artista famoso. Apaixonado por música e cinema, nunca deixou de lado seu ideal, mas foi em um dia comum de trabalho no McDonald’s em Barão Geraldo, onde atua há 13 anos, que um telefonema sinalizou que seu sonho estava prestes a se tornar realidade. Era o convite para participar de um teste para o filme ‘Colegas’.
“Foi o máximo; eu tive que fazer algumas cenas engraçadas e no mesmo dia me falaram que tinha passado. Fiquei alucinado de tanta felicidade. Minhas mãos tremiam”, lembra.
As gravações foram igualmente apaixonantes, desde a cena do refeitório até a que ele aparece fazendo graça na frente de policiais. “Conheci até o Lima Duarte”, fala, com brilho nos olhos e já colocando o artista na lista de seus preferidos. A relação ainda engloba Felipe Dylon, Justin Bieber e até o jogador Careca, ex-craque do Guarani, embora ele seja pontepretano e também admire o Vasco da Gama. “Sou bem eclético”, define.
Mas o longa não é a primeira oportunidade de Victor mostrar seu rosto para o grande público. Ele também participou da Campanha da Fraternidade da igreja católica de 2006, que teve como foco pessoas com deficiência. “Tirei muitas fotos e meu rosto foi estampado até em camisetas”, recorda.
Seus planos incluem continuar trabalhando, aprender sempre coisas novas e se casar com a namorada Bianca, que também participou do longa. E, claro, poder mostrar seu potencial como ator. “Ainda quero fazer mais um filme, só que com o mesmo diretor, o Marcelo Galvão, com quem eu fiz natação na infância, e também ir para Hollywood”, revela.
Múltiplos talentos
Na casa de Giovanna Marcondes Mammana, de 16 anos, todos são tietes confessos em suas apresentações. Desde pequena, ela gosta de dançar ritmos diversos, mas foi com a dança do ventre que mais se identificou. Com roupas repletas de véus e acessórios, ela faz todos os movimentos que a prática exige com desenvoltura, inclusive quando há plateia.
Flauta e teclado são instrumentos que Giovanna adora tocar. Em uma apresentação no Centro de Dança Integrado (Cedai) no final de 2011, emocionou o público com a valsa nupcial tocada no teclado. “Pensei no meu namorado. Foi Santa Rita de Cássia que me ajudou a escolhê-lo”, afirma, referindo a Lucas de Castro Rodrigues, de 23 anos, que também integrou o elenco de ‘Colegas’. Ao final, a mãe, Márcia Mammana, e o namorado estavam derrubando lágrimas por tamanha emoção. Em sua festa de 15 anos, vestida de princesa, ela encantou os convidados tocando Imagine, de John Lennon, na flauta.
No ano passado, a vaidosa adolescente concluiu o Ensino Fundamental e, ao invés de fazer o Ensino Médio e ter que enfrentar o vestibular, preferiu correr atrás de seu ideal: fazer o curso profissionalizante de massoterapia. “Fui chamada no curso e o professor elogiou o desempenho”, revela Márcia, orgulhosa. “Estou adorando as aulas e já fiz amizades com todos de lá”, completa a mais jovem da turma. Ao concluir o curso, Giovanna quer trabalhar, ganhar seu dinheiro e, assim como Lucas, guardar uma parte para o casamento. Mas já avisa: “Não vou parar de dançar.”
Esporte inclusivo
Fábio Maia Beani, de 36 anos, cresceu incentivado a praticar esportes, já que toda a família tem familiaridade, principalmente, com o tênis. Em 1999, teve a oportunidade de representar o Brasil nas Olimpíadas Especiais que aconteceram na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. “Viajei com a delegação. Minha mãe também foi junto, mas como torcedora”, esclarece. Na abertura do evento, teve a honra de desfilar a poucos metros de Arnold Schwarzenegger.
Ao retornar ao País, desfilou no caminhão de bombeiros de Vinhedo, onde mora. Mas, depois de treinar por muitos anos a modalidade, decidiu mudar seu foco esportivo, que agora é o futebol. Além de treinar frequentemente, ele participa de competições representando sua cidade. “Mas sou torcedor do São Paulo”, enfatiza ele, que conheceu pessoalmente atletas como Sócrates e Denílson e guarda com carinho os autógrafos.
Em sua casa, notícias de jornais e porta-retratos com os registros desses momentos têm lugar garantido, assim como os que se referem às oportunidades que teve de cantar com os artistas de quem é fã. Há alguns anos, Fábio estava na plateia do programa da Hebe quando foi chamado para soltar a voz com os sertanejos Leonardo e Daniel. “A foto foi tirada pela própria Hebe”, revela, exibindo o porta-retrato.
Certa vez, estava na área vip da Festa da Uva, quando foi chamado ao palco para cantar com João Bosco e Vinícius. “Às vezes, até rola de eu cantar em festinhas. Quando sou convidado, levo meu microfone”, diz. Seu trabalho atual é como gandula em uma academia, mas ele não deixa de lado seu maior sonho, que é gravar um disco e sair cantando por todo o País.
Ligação com Campinas
O filme ‘Colegas’, protagonizado por Ariel Goldenberg, Rita Pook e Breno Viola, conta a história de três amigos que viviam juntos em um instituto para portadores da Síndrome de Down e resolvem fugir para realizar seus sonhos. A obra foi premiada no Festival de Gramado de 2012 e em eventos da sétima arte em outros países, como Itália e Rússia. Segundo o cineasta Marcelo Galvão, como ele passou sua infância em Campinas e a maior parte do filme seria gravado na região, foi uma grande realização proporcionar para as pessoas com a síndrome que vivem aqui a oportunidade de figurar. “Eu pedi para que o Victor fosse procurado, porque o conhecia desde a década de 1980, quando fizemos natação juntos na escola Golfinho Azul”, afirma.
Galvão, que viajou na última quarta-feira para os Estados Unidos com o objetivo de levar o filme até o ator Sean Penn e que em breve seguirá para Portugal para mais um festival, acredita que o seu trabalho está ajudando a ver a questão com outros olhos.
Tudo que se diz de down me enche a vista, pois tenho um bebê com a síndrome e para mim tudo é novo. Obrigada pela matéria, isso me anima muito.