Por um transporte mais digno. Conheça as dificuldades de um cadeirante
DESCASO E DESRESPEITO!
Quem acha que a vida é difícil e costuma reclamar de tudo, não conhece a história de Eduardo Albuquerque, 37 anos, ambulante e, principalmente, cadeirante. Não sabe o que é sacrifício. Nem faz ideia das dificuldades enfrentadas para executar coisas simples do dia a dia, como pegar ônibus. Não por causa dos problemas comuns ao transporte de massa, como coletivos que demoram ou andam superlotados. Os obstáculos de Eduardo começam muito antes.
A luta do cadeirante, contada a seguir, não é apenas dele. Representa a história de pelo menos 600 pessoas. Gente que tem acesso gratuito aos ônibus da Região Metropolitana do Recife por causa da deficiência motora. Gente que precisa da cadeira de rodas para se locomover. E o curioso é que, o que no passado era o principal obstáculo, a falta do elevador nos ônibus, agora está minimizado. Existem 1.027 coletivos com o equipamento. Mas é muito comum os elevadores apresentarem defeitos, o que prejudica os cadeirantes e, principalmente, irrita os passageiros.
Esse é um dos principais obstáculos aos cadeirantes. Eles se sentem intimidados pela falta de compreensão de alguns usuários. Outras pessoas no lugar de Eduardo Albuquerque desistiriam de sair de casa. Ou iriam à rua somente nas situações de extrema necessidade. Mas Eduardo não desiste. Começou abordando a reportagem do JC na rua para relatar o drama que vive diariamente. Convenceu a equipe a fazer a matéria e constatar as limitações que enfrenta todos os dias. Depois de acompanhá-lo, a vontade, realmente, é de desistir.
Eduardo tem aposentadoria, mas precisa trabalhar diariamente no cruzamento da Rua Joaquim Nabuco com a Avenida Agamenon Magalhães, área central do Recife. É conhecido de muita gente. A cadeira de rodas é um fiteiro ambulante. Vende pipoca, balas, chicletes, canetas. Um guarda-chuva preto o protege da chuva e do sol. Mas para chegar lá todos os dias, pena bastante. Sai de casa, na Cidade Tabajara, Olinda, pouco antes das 5h para conseguir estar no trabalho às 6h30. Pega dois ônibus para ir e outros dois para voltar. Não paga passagem, é verdade. Mas paga caro para conseguir se deslocar, para ver seus direitos respeitados.
Não tem sequer um espaço para andar. Precisa circular pela Avenida Agamenon Magalhães, pulmão viário da capital, por onde trafegam 60 mil veículos dirigidos por motoristas sempre apressados. Arrisca-se pelo canto das ruas, no sentido contrário do tráfego, para chegar à parada de ônibus. Não pode usar a estação mais próxima do seu ponto de trabalho. Não serve por ser inclinada e não ter acesso para a cadeira. Precisa ir até a parada seguinte, no Derby, uma das poucas que têm algo parecido com uma rampa. No trajeto, depende da boa vontade dos motoristas em parar para ele, abrirem passagem. Eduardo corre riscos diários, frequentes. A qualquer momento pode ser atropelado.
Chegar à parada também não é garantia de nada. As estações são estreitas e estão sempre cheias de gente e ambulantes. Carroças ocupam o acesso, não deixam espaço. O jeito é ir pedindo, pedindo. “O pior de tudo é ver que tem gente que não entende. Fica irritada porque preciso passar. Se não ficar pelo menos no meio da parada, perco o ônibus porque o motorista não me vê”, explica Eduardo, paciente e sempre com voz calma. Depois de posicionado, a expectativa é transferida para a chegada do coletivo.
Muitas vezes, ele passa lotado e a operação do elevador é complicada. “É muito comum o equipamento estar com problemas. Outras vezes, a falta de manutenção faz com que ele quebre na hora da operação. É o pior de tudo. Eu prefiro que nem pare, porque os passageiros ficam muito irritados. Em vez de culpar as empresas de ônibus pela falta de manutenção, me responsabilizam. Parece que não compreendem o que enfrentamos diariamente”, afirma. Para seguir em frente, realmente só com persistência e a força de Nossa Senhora, cuja imagem está no terço que o cadeirante hora carrega preso à cadeira de rodas, hora pendurado no pescoço.
Assista o vídeo.
Fonte:http://ne10.uol.com.br/
Referência: www.incluipe.com.br
O pior que essa realidade demonstrada aqui é igual em muitas outras cidades brasileiras.
Vera, a matéria é pertinente ao momento atual e muita gente precisa ver isso.
Você disse tudo, Ari. Infelizmente essa é a realidade de muitos cadeirantes.
Fala-se tanto em acessibilidade, mas pelo visto fica só no discurso. Na prática as coisas são bem diferentes, e quem vive isso tem seus direitos desrespeitados diariamente.
De que forma cidadãos como Eduardo Albuquerque podem ter uma existência digna? E esse é um dos princípios da nossa constituição.
Mais vergonhoso é saber que empresas brasileiras exportam ônibus adaptados, e países com uma economia menor que a brasileira EXIGEM padrões mínimos de acessibilidade e segurança.
Precisamos nos unir e mostrar os obstáculos do nosso dia a dia para ver se alguma coisa melhora!!! parabéns sou tetraplégico e brigo também por nossos direitos.