Professor Francisco Lima Sai da Coordenação do Centro de Estudos Inclusivos da UFPE
Prezados,
Desde ontem, dia 26 de Março de 2013, deixei a coordenação do Centro de Estudos Inclusivos da Universidade Federal de Pernambuco (CEI/UFPE), espaço de estudo que idealizei em 2002, quando vim para Recife, para ensinar a cadeira de Educação Inclusiva nesta Universidade.
Como é possível que muitos desejem saber as razões dessa decisão, transcrevo, logo abaixo, minha carta ao DPOE, Departamento em que estou lotado no Centro de Educação, na UFPE.
Para além do que disse na carta, é mister enfatizar que inclusão não é uma área de que se fala, mas uma experiência de vida que se vive contínua, concreta e tenazmente. E não se faz isso alinhando-se à indústria da deficiência, mas combatendo-a, pois na revolução contra a exclusão, os contrários à inclusão, por vezes, transvestem-se no discurso da defesa da pessoa com deficiência e da própria inclusão.
Cordialmente,
Francisco Lima
Desligamento da Coordenação do CEI e Consequente Saída do Centro de Estudos Inclusivos
Venho, por meio deste, informar meu desligamento da coordenação do CEI e consequente saída do Centro de Estudos Inclusivos, pelas razões que abaixo cito.
Considerando que no seio do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais da UFPE (mesmo departamento, em que há dez anos propus a implantação do CEI) surgiu um novo Núcleo de acessibilidade, com objetivos “semelhantes “aos daquele Centro de Estudos, não faz sentido que eu continue à frente do CEI (Centro de Estudos Inclusivos), deixando-o, portanto.
Esteio esta decisão no entendimento de que seria desleal, desonesto e mesmo anti-hético e imoral de minha parte, estar à frente do CEI e, por exemplo, receber uma verba que, por ventura, pudesse ser destinada ao fortalecimento do novo Núcleo de Acessibilidade, ou que pudesse ser usada nos serviços providos por esse núcleo.
Disso decorre minha decisão, em caráter irrevogável.
Como todos que acompanham meus e-mails, os comunicados da Ascom, os jornais e televisão locais (e por vezes nacionais) sabem, tenho elevado o nome da Universidade Federal de Pernambuco no campo da inclusão, por meio dos cursos que já ministrei (por exemplo no Instituto Benjamin Constant, IBC, escola centenária especializada no ensino de pessoas cegas, hoje renomada Instituição Federal de Ensino e Pesquisa na área da deficiência visual); pelos pareceres jurídicos que emiti, por exemplo, junto ao MP-PE, MPF; pelas palestras, conferências, seminários, etc. que proferi, por exemplo em órgãos como o do Procon de Alagoas, junto à Comissão de Direitos Humanos do Senado e do Fórum Parlamentar das Pessoas com Deficiência da Câmara de Deputados etc. ou, internacionalmente, na “American Council of the Blind” e pelas bancas de que participei, por exemplo na Arquitetura da Unicamp, na Ciência da Informação no Ibict, na educação na UFRN, entre outras. Por isso, tenho um compromisso moral para com as pessoas que têm acreditado em meu trabalho e para com os que dele dependem, sem o pejo de uma indústria da deficiência.
Em nome dessas pessoas e visando ao exercício de uma postura ética no seio deste Departamento e da UFPE, no que tange à atenção à pessoa com deficiência, desligo-me, pois, da Coordenação do CEI e, por consequência, do Centro de Estudos Inclusivos.
Não obstante, como sei da necessidade real e imediata de ações inclusivistas; como estou ciente de meu papel na defesa da aplicação do lema “Nada Sobre nós, sem nós” contra pseudo-inclusivistas; e como os estudos inclusivos fazem parte da atuação deste docente de educação inclusiva informo, ainda, que continuarei, na extensão de minhas forças e capacidades intelectuais, a promover ações extensionistas, como a da provisão e ensino da áudio-descrição, como a orientação jurídica para o exercício do direito inclusivo, mormente na educação, a consultoria na utilização de tecnologia assistiva e o suporte para a inclusão de pessoas com deficiência, junto às famílias e escolas, aqui incluídas as universidades e seus estudantes e professores.
Por fim, desejando às professoras proponente do Núcleo de Acessibilidade, os sucessos que, à frente do CEI, não pude alcançar, principalmente na eliminação das barreiras atitudinais e nas demais que pululam nossa sociedade acadêmica, em particular e, em geral, a sociedade Brasileira como um todo, deixo os votos de que saibam aplicar as verbas hora provindas do Programa Incluir e de outras que, certamente virão, de forma a promoverem a inclusão geral e irrestrita da pessoa com deficiência.
Francisco José de Lima
Fonte: Ler Para Ver
Alguns textos do professor Francisco Lima
Barreiras atitudinais: obstáculos à pessoa com deficiência na escola
Mitos e preconceitos em torno do aluno com deficiência na escola regular e na escola especial
Bases para uma empresa sem barreiras atitudinais