Deficiência Visual

Projeto Cão Guia ajuda deficientes visuais em todo o Brasil

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Pioneiro no país, projeto atende 34 deficientes visuais em todo o Brasil e possui mais de 250 em uma lista de espera para receber seus cães

Silvo Góis, 36 anos, faz de tudo: vai ao trabalho, ao shopping, ao super mercado. Ele seria igual a qualquer pessoa, não fosse pela companheira que o leva a todos estes lugares, Naná, sua cão guia. Silvo Góis é deficiente visual, e em 2001 pôde enxergar novamente com os olhos do labrador Zircon, seu primeiro condutor. Desde então, ele deixou a bengala de lado, e ganhou o direito de ir vir livremente como qualquer pessoa, mas isto só aconteceu graças à iniciativa do Instituto de Integração Social e Promoção da Cidadania (Integra) e o Corpo de Bombeiros do DF que sedia o Projeto Cão Guia.

Pioneiro no País, o Projeto Cão Guia atende 34 deficientes visuais em todo o Brasil e possui mais de 250 em uma lista de espera para receber seus cães. Ontem, Silvo recebeu Naná, uma labradora que vai substituir Zircon, seu primeiro companheiro. “O Zircon está com quase dez anos e muito cansado, por isso ele vai se aposentar. Eu tive a sorte de poder receber um segundo animal”, comemora Silvo Góis. Graças à ajuda do projeto e de Zircon, Silvo se formou na Universidade de Brasília, em Ciências Contábeis e vive uma vida normal. “Ele era o melhor aluno. Eu sou contador e ele é um ‘cãotador'”, brinca.

O cão guia é levado para todos os lugares e nunca sai do lado de seu dono, até mesmo na hora de dormir. “Agora quando acordo para beber água tenho duas sombras, a Naná e o Zircon”, relata Silvo. Mas se tornar um cão guia não é fácil. Exige cuidados, investimento e o bom grado dos voluntários e doadores. Paulo Osório, 35 anos é voluntário do projeto e abriga em sua casa a pequena Zara, uma labradora chocolate de seis meses. “Eu tenho que cuidar dela, levá-la para passear no ônibus, ir ao shopping, ao supermercado”, explica Osório, responsável pela socialização de Zara. Até o primeiro ano de vida, o cachorro não é treinado para ser um guia, ele precisa apenas se acostumar com os ambientes sociais e aprender se comportar. Às vezes, tem gente que implica. “Mas quando isto acontece, sempre mostramos a nossa documentação, a do animal, e a lei. Daí as pessoas aceitam numa boa”, relata Paulo Osório.

Assim como o deficiente se apega ao animal, a família que o hospeda também. Maria Lúcia Côrrea e Ricardo, seu marido, se emocionaram muito na entrega de Naná para Silvo, que aconteceu no domingo (13). Naná foi 11º cão que a família Côrrea hospedou, mas a emoção foi forte da mesma maneira. “É maravilhoso ver ela se comportando e trabalhando. Estamos fazendo um bem enorme para quem precisa”, disse Maria Lúcia. Silvo que também não conteve as lágrimas ao aposentar Zircon e receber Naná completou: “O que vocês estão me dando não pode ser mensurado em dinheiro, em nada. O que vocês me deram é a garantia da minha liberdade”. Paulo Osório ainda tem três meses para curtir Zara, mas garante que está se preparando para as lágrimas na hora de entregá-la ao projeto para ser treinada.

O que pouca gente sabe é a diferença que o Cão Guia faz na vida de um deficiente visual. Sem dúvida sua locomoção é facilitada, mas não para por aí. “Quando estamos de bengala, as pessoas nos olham de forma penosa, com o cão as pessoas formam uma imagem diferente dos cegos“, relata Silvo Góis sobre a experiência de poder andar sem o auxílio da bengala. E não é só isso, o risco de acidentes também diminui. Silvo conta que com a bengala se machucava em quedas, ou esbarrava nas pessoas. Até sua bengala foi quebrada e ninguém veio lhe ajudar. “O cão desvia de obstáculos que com a bengala você nem saberia que estão lá. A gente não atropela as pessoas e nem elas nos atropelam“, brinca.

A alegria de Silvo Góis poderia ser estendida aos outros 253 cegos que aguardam por um Cão Guia não fosse as dificuldades financeiras que o projeto sofre. “Entregamos quatro cães este ano, e se tivéssemos mais apoio e patrocínio, poderíamos entregar até 25 “, esclarece Michele Pöttker, 26, administradora do Projeto. Com quase 100 cães, entre reprodutores, em exercício, sendo socializados e treinados, o custo da instituição é de cerca de R$ 40 mil por mês. O projeto já recebe ajuda de empresas como a Premiere (ração), Bayer (remédios), UnB e Banco do Brasil que adotou Naná, a nova cão guia de Silvo. Mas mesmo assim, há dívidas e o risco de fechar as portas. “Precisamos de pessoas e empresas que queiram fazer doações mensais, mesmo que seja de apenas R$ 10, já faria muita diferença“, enfatiza Michele.

Para muitas pessoas o cão é o melhor amigo do homem, para pessoas como Silvo, ele é muito mais do que isso. O cão é o seu direito de liberdade, de ir e vir, é sua visão e proteção. Naná é para Silvo a manutenção do seu direito à liberdade e de vida.

Informações sobre como ajudar, pelo telefone 3345-5585 ou pelo email: caoguiadf@gmail.com

Fonte: Jornal de Brasília  (15/12/09)
Referência: Rede Saci
Imagem retirada do Google Imagens

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Vera Garcia

Paulista, pedagoga e blogueira. Amputada do membro superior direito devido a um acidente na infância.

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