Quem cuida dos cuidadores de Pessoas com Deficiência?
A avó de Ketelyn** está uma pilha de nervos. Não bastassem todas as dificuldades de comprar tudo que a menina precisa, de comida a remédios, e de dar atenção noite e dia, ela agora se sente ameaçada de perder o emprego.
Com 62 anos, a idosa é funcionária de uma empresa terceirizada de limpeza e trabalha numa escola na zona norte de Manaus. Como não tem com quem deixar Ketelyn, que tem microcefalia e movimentos muito limitados, leva a menina todos os dias ao trabalho, deixando-a em uma salinha nos fundos da escola.
O problema é que outros funcionários acusam a senhora de ter “regalias”, por parar o trabalho para ver a neta, ou mesmo faltar nos dias em que precisa levar a menina ao médico. Isso a faz ter medo de ser demitida.
Infelizmente, a situação da avó de Ketelyn não é exceção.
Estudo realizado por pesquisadores da Unesp de Marília, no interior de São Paulo, com 90 cuidadores indicou que 7% dos cuidadores eram avós.
A maior parte dos cuidadores eram as mães, representando 79% do total. Juntando com tias, irmãs e filhas, a porcentagem de cuidadores do gênero feminino era de 91%. Um estudo realizado com 980 famílias de 74 instituições da Apae em Minas Gerais indicou dado parecido: 90% dos cuidadores de pessoas com deficiência (PcDs) múltipla eram do gênero feminino.
O estudo de Minas destacou ainda os principais problemas enfrentados pelos cuidadores: em 77,5% dos lares não há adaptação no ambiente.
Nas famílias estudadas, em geral, observou-se pobreza; alto grau de dependência econômica do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A maior parte das cuidadoras não possui renda própria; grande parte delas apresenta baixa escolaridade; muitas mães são as únicas responsáveis pelas crianças; é comum a ocorrência de sofrimento mental.
Boa parte das cuidadoras não têm com quem dividir o trabalho familiar; em geral, as cuidadoras têm baixa sociabilidade; e, obviamente, há maior necessidade de apoio aos cuidados em famílias com maiores vulnerabilidades.
Tudo isso nos deixa a pergunta: o que fazer para facilitar a vida dos nossos cuidadores?
Como cidadãos comuns, podemos nos organizar e ajudar voluntariamente essas pessoas.
É o que fazemos todos os dias por meio do Instituto Social Que A Inclusão Vire Rotina: levamos atendimentos, como dentistas, psicólogos, hidroginástica e zumba para as pessoas que cuidam de pessoas com deficiência.
Mas muito precisa ser mudado principalmente pelo Poder Público. É necessário modificar leis e fazer com que o trabalho importantíssimo dos cuidadores seja reconhecido e apoiado.
Algumas ações que podem ser tomadas:
Estender benefícios também aos cuidadores. Uma cuidadora, por exemplo, pode utilizar gratuitamente um ônibus só quando está acompanhando a PcD. Mas, e se tiver de ir à farmácia comprar um remédio ou a um mercado? Estender a gratuidade para ela seria mais do que justo.
Diminuir a burocracia
Isso atinge os cuidadores e as próprias PcDs. Qual é, por exemplo, a explicação para um laudo de Síndrome de Down perder a validade e ter de ser renovado? Em boa parte das deficiências, o que existe é uma progressão, então a questão dos laudos precisa ser pensada para não criar trabalho inútil para as famílias e cuidadores.
Aumentar a renda per capta de corte para quem recebe o BPC. Atualmente, para receber o BPC, a renda familiar per capita do beneficiário deve ser igual ou inferior a um quarto salário mínimo, ou seja, R$ 303 por pessoa (¼ de R$ 1.212). Ou seja, se uma mãe mora sozinha com a filha e tem um emprego em que recebe um salário mínimo, hoje ela já não pode receber o BPC.
A própria avó de Ketelyn, de quem falamos no começo do texto, não recebe o benefício porque teria de abrir mão do trabalho para fazer isso. Um absurdo.
Dar o mínimo de direitos aos nossos cuidadores é urgente, pois melhoraria muito as condições de vida das famílias das PcDs.
Essa deveria ser uma pauta dos nossos vereadores, mas também de deputados, governadores e da Presidência da República, cargos para os quais haverá eleições este ano.
Escolher quem defenda os cuidadores de PcDs pode ser um ótimo critério de votação. Fica a dica.
Para saber mais: Estudo da Unesp de Marília: https://www.scielo.br/j/rbee/a/sbXx55vwGZNmHxVvZfHk9Ls/?lang=pt
Estudo sobre cuidadores de MG: https://revistareacao.com.br/em-minas-gerais-90-dos-cuidadores-de-pessoas-com-deficiencias-multiplas-sao-mulheres/
*Viviane Lima é presidente do Instituto Social Que A Inclusão Vire Rotina.
**Ketelyn é nome fictício; adotamos para preservar a identidade da criança e da avó.
Texto escrito por Por Viviane Lima
Fonte: https://zerohoraam.com/
Vera, meu marido amputou é isso faz cinco anos. Trabalho mas não tenho mais vida social. Me sinto mal porque não sei o que será da minha vida. Somos sozinhos.
Consegui prótese e ele disse q não consegue.
Viver está tão sufocante. A casa parece pequena com nós dois. Tenho uma amiga que sugeriu eu deixar ele num quarto com banheiro e viver minha vida. Mas não sei se é certo… são 40 anos casados. O que faço ?
Oi Leonilda! A sua situação é bem delicada. A primeira pergunta que eu me faria se eu estivesse na sua situação é: Eu amo meu marido? Acredito que a partir daí você pode tomar suas decisões. Caso sua resposta seja não, independente se ele tem ou não uma deficiência, você não pode viver ao lado de alguém sem amá-lo e ser infeliz. Eu penso assim…