‘Quero cantar para o mundo’: a vida cheia de energia de uma jovem com Down
Ela acabou de estrear como mestre de cerimônias. Na última semana de junho, disputou um campeonato de street dance, teve aulas de dança de salão, foi ao colégio e praticou o dedilhado no teclado. Distraiu-se com seus vídeos e pegadinhas prediletas no YouTube, esparramou-se no sofá conversando com amigos pelo WhatsApp, participou de oficinas num projeto social e participou de um curso de gastronomia inclusiva.
Julia Oliveira Camarão tem energia de sobra e carisma de poucos. Em 2020, vai participar do desfile da escola de samba Rosas de Ouro no carnaval de São Paulo, de uma forma “inovadora” — segredo que escapou sem querer, entre risos, no meio da conversa.
Julia, de 18 anos, tem síndrome da Down. O diagnóstico foi dado em seu 38º dia de vida. Desde então, é estimulada a fazer tudo o que puder para ser feliz. A jovem não teria todo esse ritmo sem sua mãe, Luciene Brito, de 57 anos. Julia é sua filha única.
Luciene teve o choro e o marido como companheiros nos 37 dias de angústia que viveu, antes de ouvir do médico a resposta sobre a condição da filha. Chorou sem parar durante os últimos minutos da fatídica consulta. Ainda na sala do médico, fez a famosa pergunta: “Por que eu?” “Ele respondeu com outro questionamento, e isso mudou minha vida: Por que não você?”, conta, emocionada.
Aceitação imediata A aceitação imediata paralisou as lágrimas e a fez começar a pensar no que poderia fazer para melhorar a vida da criança. O médico, que virou amigo da família, lhe ajudou com alguns conselhos. Do principal deles ela lembra até hoje: estimular. “Saí do consultório outra pessoa. Em dois dias, Julia já estava na fisioterapia”, explica. Sessões de fisio, fonoterapia, terapia ocupacional e hidroterapia, entre outras, foram fundamentais para Julia brilhar no que faz.
Universa acompanhou a estreia de Julia na função de mestre de cerimônias do 5º Fórum Gestão da Diversidade e Inclusão, promovido pela CKZ Diversidade, na zona sul de São Paulo. “Tremia tanto que o papel mexia. Depois passou, afinal eu sabia o que fazer”, explicou a adolescente, sobre os seus sentimentos no primeiro trabalho. Julia já pensa na conta bancária que será aberta para receber os futuros cachês.
A nova função faz parte de seu desenvolvimento e das aulas de que participa na ONG Simbora Gente. Lá a jovem divide experiências e ouve orientações. É lá que ela discute, por exemplo, como lidar com as emoções, ao lado de jovens como ela. A turma é supervisionada pela coordenadora educacional Fabiana Duarte.
‘Quero cantar para o mundo’ Julia tomou consciência de que tinha Down aos 15 anos, assistindo ao programa Domingão do Faustão da TV Globo, ao lado dos pais. A primeira reação foi falar para o casal que estava no sofá: “Viu que eu não sou doente? Só sou Down”. Depois de muito choro e sessões com uma psicóloga, a adolescente aprendeu mais sobre sua condição e passou a viver com mais intensidade.
A adolescente quer ser cantora e já canta com uma banda, em São Caetano do Sul, no ABC paulista. Moradora de Santo André (SP), Julia ama de paixão a youtuber, cantora e atriz teen Larissa Manoela. Na sequência do Ensino Médio, pretende cursar a faculdade de música. “Quero cantar para o mundo. É só acreditar nos meus sonhos que eu vou conseguir”, afirmou, de maneira espontânea.
Julia tem um carisma enorme. A mãe, que perdeu o emprego recentemente, passou a ficar todo tempo ao seu lado. “Antes de mais nada, não sou rica. Tive pais que me ajudaram muito e fui atrás dos benefícios que passamos a ter por causa da condição de Julia”, diz Luciene Brito, que trabalhava com Tecnologia da Informação.
Questionada do que gosta de fazer nas aulas de gastronomia, responde que é nhoque de batata. Para controlar o peso e não ter problemas digestivos, comum entre pessoas que vivem com a síndrome de Down, Julia faz acompanhamento com endocrinologista. “Gosto de fazer tudo o que faço, até palestra eu já fiz. Mas eu gostaria mesmo é que as pessoas parassem com os preconceitos com pessoas diferentes”, conclui.
Fonte: https://www.uol.com.br
Bela matéria! Seja feliz sempre Julia! Sou Edeniuza, tia/mãe do Marcinho, SD. Ele tem 24 anos e gosta de dançar e de gastronomia como você!