“Quero ser um grande gerente”, diz funcionário com síndrome de Down
Ernani Alvim de Jesus trabalha há 3 anos em rede de fast food. Moradores de Mogi contam histórias inspiradoras de pessoas com Down.
Todos os dias, o morador de Mogi das Cruzes, Ernani Alvim de Jesus, de 38 anos, sai de casa pela manhã e caminha até o seu local de trabalho. Sozinho. E cada passo dado sozinho, significa muito para ele, que tem síndrome de Down e consegue ser independente em vários aspectos.
A síndrome é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células da pessoa. Isso ocorre na hora da concepção da criança. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células, em vez de 46, como a maior parte da população.
Há três anos, Ernani é atendente em uma das unidades da rede de fast food, ficando responsável pela recepção dos clientes e limpeza do saguão. Mas Ernani sonha alto: quer ser gerente. E se depender do seu carisma e desenvoltura, o sonho não está longe de se tornar realidade.
O salão da lanchonete, onde ficam as mesas e o balcão de pedidos, é a área de domínio de Ernani. Ali ele é responsável por recepcionar os clientes que entram e saem, além de limpar as mesas, organizar as cadeiras e levar pedidos aos clientes. E ele não para. Quem vai até a unidade, em Brás Cubas, vê Ernani pulando de mesa em mesa para deixar tudo limpo e brilhando para o próximo cliente.
A experiência com o trabalho é tanta, que Ernani treina os funcionários novatos. “Explico para elas como tem que fazer, e ser simpático com os clientes. Tem que conversar com eles, perguntar se está tudo bem”, detalha.
E ele cativa. “Eu sempre venho comer aqui e encontro ele. Acho esse espaço que a empresa dá muito importante, porque as pessoas com deficiência são capazes de muitas coisas. Tudo é questão de ensinar e dar espaço. Minha esposa é professora, ela tem alunos especiais e sempre conta como se surpreende com essa experiência”, diz o analista de logística Luiz Henriques, que chegou cumprimentando Ernani como velhos conhecidos.
A auxiliar de limpeza Cristiane Augusto de Oliveira é vizinha e cliente de Ernani. “Ele mora no mesmo prédio que eu, a gente acompanha a história dele desde sempre e tenho orgulho de vê-lo aqui trabalhando. Eu uso como exemplo para minha filha de que as pessoas são capazes, que não devemos subestimar a força de alguém”, disse a mãe da Heloísa, de 6 anos.
A gerência da loja conta que, como Ernani tem dificuldade com letras e números, desenvolve serviços físicos com mais facilidade. Ainda segundo a gerência, Ernani é um funcionário exemplar: nunca chegou atrasado e nunca precisou ser chamado atenção por ter se esquecido de algo.
Preparação
O desempenho de Ernani só foi possível porque ele passou por atendimento na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mogi das Cruzes, onde aprendeu coisas básicas do dia a dia, como amarrar o tênis, se vestir sozinho, escovar os dentes, pentear os cabelos, pegar ônibus e coordenação motora.
“Parece pouco, mas só de aprender essas funções, que para nós são básicas, uma pessoa com Down consegue ter indendência e ter uma vida normal. Algumas conseguem até morar sozinhas, cuidar das próprias contas. Outras não, chegam até um limite. O que é importante destacar é que estimular essa pessoa desde cedo faz a diferença para que ela se sinta segura de fazer as coisas que gosta de forma independente”, explicou a diretora escolar da Apae de Mogi das Cruzes, Ana Paula de Siqueira Nogaroto Kanaan.
“Eu aprendi a jogar bola, vôlei, e isso me ajuda a limpar a mesa hoje, porque aprendi a movimentar os braços. Eu também sei pegar ônibus, mas gosto muito de trabalhar aqui porque é perto de casa”, afirma Ernani, mostrando que não abre mão da qualidade de vida. No mês de fevereiro, ele ganhou o prêmio de funcionário do mês.
Fonte: G1