Regras para fazer do imóvel uma casa para a vida toda, até a velhice
Proprietária de uma pousada geriátrica em Campo Grande, Silvia Samara Gimenes Salamene, de 35 anos, sabe bem que não pode se descuidar da segurança dos idosos. Sabe também que não basta só atenção e boa intenção. É preciso garantir a acessibilidade dos clientes que atende todos os dias.
Há 3 anos, justamente por essa questão, a casa, que ficava na Eduardo Santos Pereira, passou a funcionar em outro endereço. Como o antigo imóvel era alugado, os proprietários não permitiram alterações na parte estrutural. Na “nova pousada”, que fica na rua São Paulo, tudo foi pensado para quem já chegou à chamada “terceira idade”.
“Colocamos banheiros adaptados em todos os quartos, corrimão em tudo, dentro e fora… Os pisos são antiderrapantes. A casa é plana, não precisa de rampa. Toda a preocupação foi por conta da acessibilidade”, afirmou a proprietária.
Casas planejadas, acessíveis, é uma preocupação antiga dos profissionais que trabalham na área da arquitetura, mas eles ainda enfrentam a resistência de clientes. Muitos, com “medo” do custo final da obra, acabam dispensando os ajustes necessários. O que acontece, geralmente, é uma reforma na hora da necessidade. Aí sim, os custos extras, dizem os especialistas, podem aparecer.
O Lado B foi atrás de quem entende do assunto para “desmistificar” algumas verdades – como o orçamento superior – e saber como deve ser uma casa para idosos. Arquiteta, Angela Cristina Santos Gil Lins, de 40 anos, integra a equipe técnica da SBA (Sociedade em Prol da Acessibilidade, Mobilidade Urbana e Qualidade de Vida de Mato Grosso do Sul).
A profissional apontou algumas “dicas gerais” de um projeto como esse. Em todo caso, é necessário, segundo ela, uma boa entrevista com o cliente. A intenção é saber das necessidades dele, as limitações e exigências. Se tratando de idosos, “o levantamento das necessidades é maior ainda, pois precisamos saber se o idoso vai morar sozinho, com um companheiro, se tem animais de estimação, se recebe visitas”, disse, exemplificando.
O projeto de uma casa para idosos deve contemplar tudo o que uma “residência comum” tem, mas é preciso dar atenção à NBR 9050, norma técnica que regulamenta a acessibilidade a edificações, mobiliário e equipamentos urbanos.
O arquiteto, afirmou, “precisa dar atenção especial para banheiros e pisos”. É imprescindível observar as dimensões dos espaços de circulação e não se esquecer dos itens de segurança como, por exemplo, pisos não escorregadios em áreas molhadas – como banheiro, calçadas, área de serviço e varanda – e barras de apoio.
Entre as dicas gerais, é preciso se atentar ao tamanho das portas – que devem ter vão livre de 0,80 centímetros para facilitar o acesso de uma cadeira de rodas -, maçanetas que facilitam a empunhadura e iluminação adequada.
O cuidado se estende à decoração. O mobiliário precisa ter altura adequada e cantos arredondados. É uma maneira de prevenir acidentes. Angela Cristina também recomenda evitar o uso de tapetes com felpa alta para não prejudicar quem tem dificuldade de locomoção.
Além da segurança, a comodidade deve ser pensada. Uma casa acessível, defende a arquiteta, “é uma casa confortável para toda as pessoas”. Se o projeto, desde o início, levar em consideração esse conceito, não será mais necessário adaptar nenhum espaço. Reformas, aliás, sempre acabam sendo mais caro que uma nova construção.
“Um projeto para idoso não necessariamente aumenta os gastos, ao contrário do que todos imaginam. O custo final da obra será o mesmo de qualquer outra obra desde que seja bem planejada e executada”, orientou a profissional.
Cartilha – Angela lembrou que este ano, a SPA-MS elaborou, em parceria com o CAU – MS (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado), um guia prático de acessibilidade. A cartilha, que foi distribuída aos participantes da 2ª Decon-MS, feira de decoração que aconteceu em Campo Grande, é direcionada a projetistas e conta com a diretrizes básicas da NBR-9050/2004.
São 63 páginas de orientações que trazem, por exemplo, as exigências para construção de sanitários, bebedouros, balcões, auditórios, cinemas, teatros, cozinha. O material também elenca as especificações para o acesso e circulação e destaca as normas para construção de calçadas, guias rebaixadas, faixas elevadas, rampas, corrimão, guarda-corpo, degraus, entre outros.
Há, ainda, as definições importantes para sinalização visual, tátil, sonora, de vagas para veículos e até o local determinado para o posicionamento do intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Além das especificações para projetos residenciais e comerciais, o guia também abrange as diretrizes recomendáveis para obras públicas, como parques, praças e locais turísticos. Delegacias e penitenciárias também estão incluídas.
A intenção dos órgãos é divulgar a legislação e sensibilizar a sociedade sobre as dificuldades encontradas no uso dos espaços utilizado pelas pessoas com deficiência, permanente ou temporária, mobilidade reduzida, idosos ou gestantes.
Fonte: Campo Grande News