Relato emocionante de um pai cadeirante
Não pensava mais em ser pai. Por conta de uma lesão medular, devido a ferimento por arma de fogo num assalto em 1993, sabia que teria dificuldades nesse quesito. Na época mesmo do incidente fiz vários exames de fertilidade que me deixaram totalmente sem esperança.
Mas, em 2012, já casado com a Denise, descobrimos que tínhamos sim uma chance de engravidar via fertilização in vitro (FIV) e, no ano seguinte, resolvemos tentar.
Ansiedade alta, investimento alto… e a notícia amarga do negativo. Porém, o pior não era lidar com o fato de não termos engravidado, o pior era engolir a sensação de desprezo por parte da clínica, que tinha nos vendido uma falsa promessa de sucesso na fertilização.
Entristecemos, pensamos em desistir, mas resolvemos nos organizar financeiramente para tentar novamente. Na segunda vez, agora em outra clínica, e com uma equipe médica totalmente transparente e profissional, iniciamos novo tratamento. Ansiedade Alta, investimento alto… e a boa notícia “Você vai ser papai!”
Foi uma mistura de felicidade incalculável com dois “pés atrás” porque sabíamos que os primeiros meses seriam decisivos. Combinamos de não contar para ninguém até os 3 meses de gestação para não gerar mais expectativas.
Mas foi muito difícil segurar a novidade tamanha a emoção. Até que um dia, em um chá de bebê de amigos, não aguentamos e compartilhamos a notícia. Daí em diante, foi uma emoção atrás da outra. A comemoração que ficou contida no início da gestação era renovada a cada pessoa que contávamos da chegada do bebê. Muito se emocionavam com a gente, foi muito bacana saber que haviam tantas pessoas torcendo por nós.
É claro que a protagonista dessa fase é mãe mas a partir do momento que tive a notícia que seria pai (de uma menininha) me comprometi a dar a melhor educação possível, as melhores condições para que minha filha cresça com todo amor e todo suporte necessário para ser uma mulher feliz, realizada e com muito orgulho do pai.
Fiz questão de estar presente e vivenciar cada etapa da gravidez, fui em todos os ultrassons, acompanhei em exames e, claro, estava lá na hora do parto.
Hoje eu sou um PAICEIRO (pai e parceiro). Minha bonequinha nasceu e ajudo a dar banho, faço mamadeira, troco fralda, faço dormir, faço massagens para aliviar as cólicas, assisto Show da Luna com a bebê… e tudo o mais!
Mas, sim, tomo meus cuidados. Sou cadeirante e não tenho muito equilíbrio de tronco, por isso fico me policiando o tempo todo para não derrubar e também não cair com a bebê.
Todo movimento que faço com ela tem que ser com muito cuidado. Porém, sou também um ser privilegiado pois, desde o primeiro dia de vida, quando pego ela, tenho a impressão que ela me ajuda.
Um dia desses, a Denise passou muito mal de madrugada, tão mal que precisávamos ir para o Pronto Socorro para ver o que estava acontecendo. A Denise vomitava, estava sem forças. Tentei ajudá-la, mas a situação ficou fora de controle.
Aí, foquei na bebê. Fiz a mamadeira para ela, a passei para cama (onde tenho mais equilíbrio), dei mamadeira, fiz arrotar, troquei, passei ela novamente para o berço (tinha que deixá-la num lugar seguro) e parti para fazer a mala da bebê com tudo que é imprescindível para ela.
Depois, levei ela no carrinho até o carro e segui para o meu principal desafio: passar a bebê do carrinho para o bebê conforto! Claro que consegui, mas não pergunte como!!!!! Certeza, certeza que ela me ajudou.
Agora tinha que ajudar a Denise que nesse momento já não tinha mais nenhuma força para chegar até o carro. Com bastante dificuldade e se apoiando em mim, conseguimos o feito. Entramos e seguimos para o Hospital.
Desse dia em diante, não tenho mais dúvida, vamos conseguir fazer de tudo. Juntos.
Vagner Nascimento
Pai de Luiza, 5 meses