Rio inaugura primeira grande fábrica de células-tronco do Brasil
Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) inauguraram ontem a primeira grande fábrica de células-tronco do país. O objetivo é distribuir linhagens dessas células para dezenas de centros de pesquisa Brasil afora, de maneira que futuros testes de laboratório –e, com sorte, de terapia celular em pessoas– sejam padronizados e tenham resultado mais confiável.
O Lance (Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias) fabricará não só linhagens de células embrionárias humanas, famosas por sua versatilidade quase ilimitada (podem assumir a função de qualquer tecido do organismo adulto), mas também as chamadas células iPS. Esse outro tipo é aquele produzido quando um pedaço do organismo adulto, como uma célula da pele, é “convencido” a retornar a um estado mais primitivo, tão versátil quanto o embrionário.
A esperança é que ambos desempenhem um papel importante na medicina do futuro. As duas classes de célula podem ajudar a reconstruir a dinâmica de doenças humanas em laboratório e servir como plataforma para teste de novas drogas.
Também há chance de usá-las para reconstruir tecidos e órgãos lesados, como os neurônios desfuncionais de uma pessoa com mal de Parkinson, embora nenhum teste em humanos tenha ocorrido até agora.
Criatividade e esperança
Com recursos do Ministério da Saúde, do CNPq, da Finep e do BNDES, o Lance é uma tentativa de aplicar resultados da pesquisa básica em saúde.
O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, Roberto Lent, disse que a iniciativa marca um momento de “criatividade e esperança” para a instituição, que está fazendo 40 anos. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, foi o responsável por inaugurar oficialmente o laboratório ontem.
O novo laboratório terá também um braço na USP (leia texto à dir.). Os 26 pesquisadores da ala carioca do Lance se destacam, junto com seus colegas paulistas, pela experiência já adquirida na área.
Foram os primeiros da América Latina a produzir células iPS, um truque delicado de manipulação genética, e os primeiros a produzirem uma tese de doutorado e um artigo científico sobre células-tronco embrionárias humanas no Brasil.
O grupo também anda otimizando técnicas para a produção e a análise dessas células em larga escala.
A ideia é usar esse know-how como controle de qualidade das linhagens celulares que serão empregadas para pesquisa no Brasil.
Os cientistas planejam garantir que as células distribuídas estejam livres de contaminação bacteriana, sem anomalias genéticas e com pluripotência (versatilidade na transformação em outros tipos).
Comparabilidade
Stevens Rehen, o biólogo coordenador do laboratório, diz que será preciso encontrar equilíbrio entre a padronização das linhagens e a criatividade de cada grupo de pesquisa.
“Posso chegar a um protocolo numa determinada linhagem que é boa para produzir neurônios, e para mim está ótimo”, explica o cientista. Segundo ele, porém, isso não basta. “É importante que seja possível comparar as linhagens durante testes clínicos, por exemplo, porque é comum cada uma se comportar de modo diferente.”
Outro fator a ser considerado pelos cientistas é a composição genética das células, que influi na maneira com que elas reagem a drogas, por exemplo.
“A [linhagem] que testamos era cerca de 98% europeia. Pode ser que nunca consigamos amostrar toda a diversidade genética brasileira, porque quem tem acesso a clínicas de fertilização [fornecedoras de células embrionárias] tende a representar uma fatia mais europeia da população”, afirma.
Fonte: Folha Online (01/12/09)
Referência: Portal Mara Gabrilli
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