Seminário Mídia e Deficiência: Falta de informação gera preconceito
“O principal desafio do jornalista e da mídia é enfrentar a situação de despreparo”, diz o gerente de jornalismo da Record.
No primeiro painel do seminário Mídia e Deficiência, que se realizou ao longo na quarta-feira (27), no Teatro Dante Barone, os participantes abordaram o tema “Mídia para a Inclusão”. Sob a mediação da coordenadora do projeto Assembleia Inclusiva e do Movimento Superação RS, Juliana Carvalho, os jornalistas Gustavo Trevisi, Edelberto Behs, Givanildo Menezes e Jairo Marques falaram sobre a importância da informação na quebra dos preconceitos.
O painel foi aberto com a exibição de um vídeo mostrando dúvidas e questionamentos de jornalistas e estudantes de comunicação sobre terminologias e formas de tratamento aos deficientes. Em seguida, o jornalista Gustavo Trevisi fez um breve relato da sua trajetória. Com paralisia cerebral, ele atua hoje na Secretaria Estadual da Saúde como concursado. Ele criticou a falta de espaços específicos, fixos, na mídia para pessoas com deficiência. Na sua opinião, será preciso uma pressão maior para que esse quadro se modifique.
O coordenador do curso de jornalismo da Unisinos, Edelberto Behs, falou sobre a importância da informação na quebra de preconceitos. “As palavras têm força, empoderam os seus usuários, constroem e destroem”, disse. Citou o livro “A Conquista da América: A Questão do Outro”, de Tzvetan Todorov, para lembrar que a conquista do continente se deu principalmente pela superioridade na comunicação humana. “Antes de dominar, é preciso estar informado”, declarou.
Para o professor, “os jornalistas são artesãos que usam palavras como matéria-prima e podem contribuir na quebra dos preconceitos e propiciar um olhar holístico para a deficiência”. No entanto, segundo ele, a realidade das redações não tem permitido que isso ocorra. Disse que os manuais de redação cobram um maior preparo dos jornalistas, mas as empresas de comunicação não estão preparadas. Encerrou sua fala citando Umberto Eco, segundo o qual “todas as formas de racismo e de exclusão constituem, em última análise, maneiras de negar o corpo do outro”.
(Veja: Seria possível afirmar que a mídia realmente trata as pessoas com deficiência sem discriminação?)
Também o gerente de jornalismo da Record, Givanildo Menezes, abordou a questão do despreparo da imprensa. “O principal desafio do jornalista e da mídia é enfrentar a situação de despreparo”, disse. Citou Mino Carta para dizer que “não é que a mídia brasileira seja em sua maioria mal-intencionada, ela é despreparada, ruim mesmo”.
Segundo Menezes, é preciso melhorar a informação. Disse que passou quatro anos em uma faculdade de jornalismo sem nunca ter ouvido falar, no curso, do tema da inclusão. “E sem informação surgem os preconceitos”, declarou. “Nós, jornalistas, devemos nos preparar para dar acessibilidade à informação”, continuou. “E não é tanto o quanto se fala da pessoa com deficiência, mas como se fala”, opinou. Ele concordou com o painelista anterior ao dizer que o problema não se refere somente ao jornalista, mas também à empresa, e disse que a discussão deve vir já da academia. Na sua avaliação, porém, a mídia não está despreparada apenas para a questão da deficiência, e sim para uma série de outros assuntos, como as questões de gênero e de raças, por exemplo.
Já na opinião do chefe de reportagem da Agência Folha e colunista do caderno Cotidiano, Jairo Marques, outros grupos sociais já galgaram um espaço que os deficientes ainda não têm. Segundo ele, essa ampliação dos espaços é fundamental para se quebrar os conceitos irracionais que estão na cabeça das pessoas. “Só com um trabalho exaustivo de mídia vamos quebrar esses conceitos”, disse.
O jornalista apresentou o trabalho que tem sido feito pela Folha de São Paulo, que, segundo ele, vem incluindo matérias sobre o tema da acessibilidade em todas as suas editorias. Ele também questionou chavões na abordagem da mídia sobre os deficientes, que, na sua avaliação, abusa das ideias de “superação” e “avanços da medicina”.
Jairo Marques falou ainda sobre a invisibilidade das pessoas com deficiência aos olhos da sociedade. Como exemplo, citou uma cena recente e recorrente, segundo ele: a recepcionista do hotel que, em vez de se dirigir a ele, dirige-se à pessoa que o acompanha. Disse que o mesmo ocorre em lojas quando a vendedora pergunta à mulher dele o que ele quer. Segundo ele, as pessoas com deficiência não querem ser vistas como especiais. “O máximo que se pode fazer é perguntar: como posso ajudar?”, disse o jornalista. “Ou como posso ajudar a empurrar a sua cadeira?”, completou.
Fonte: Jus Brasil (27/07/11)
Referência: http://www.augustopinz.com.br
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