Seria possível afirmar que a mídia realmente trata as pessoas com deficiência sem discriminação?
Antes de ler o texto abaixo recomendo que leia o artigo “Terminologia sobre deficiência na era da inclusão” do consultor de inclusão social, Romeu Sassaki.
Seria possível afirmar que a mídia realmente trata as pessoas com deficiência sem discriminação?
Não, porque algumas das palavras-chave usadas para selecionar as matérias que integram a amostra têm sido utilizadas para amenizar a realidade da deficiência.
São termos nitidamente eufemísticos, que constituem uma forma de discriminação significativa, embora mais sutil e difícil de ser apontada como tal.
O desafio dos eufemismos
Essas expressões são “crianças especiais” (ou adolescentes, adultos, idosos…), “necessidades especiais” e “direitos dos especiais”. A palavra “especial” não deve ser usada com referência à deficiência, pois hoje adquiriu uma conotação que tende a abstrair, dos indivíduos com deficiência, sua condição humana.
Confere-lhes, assim, uma diferenciação inadequada pois, por sermos únicos, somos, todos, especiais, sem exceção.
Pela mesma razão, a designação “excepcional”, embora inicialmente pareça meritória, traz um conteúdo preocupante, pois atribui à pessoa com deficiência um lugar de alguém que foge aos padrões humanos de existência e de comportamento. Quanto mais vista como excepcional ou especial é uma criança, mais difícil se torna, para o professor, se imaginar com ela em sala de aula. Desse falso pressuposto, nasce e se fortalece, também, a idéia de que os professores precisam se preparar muito, quase infinitamente, para receber um aluno com deficiência na turma.
Termos jurídicos exigem atenção redobrada
Mas, e quando a palavra “especial” vem atrelada a termos adotados oficialmente, inclusive, pela área de Educação e de Justiça em nosso País, como é o caso de “portador de necessidades especiais”, “necessidades especiais”, “necessidades educativas especiais” e “necessidades educacionais especiais”?
Nessas situações, o vocábulo especial, ao contrário do que o senso comum imagina, apresenta uma dimensão jurídica, referindo-se a necessidades educacionais que podem dizer respeito a qualquer pessoa, importantes para definir, principalmente, técnicas pedagógicas adequadas ao processo educacional.
São recursos que devem ter ficado doente e perdido dias e dias de aula, ser surdo, ser cego, ter deficiência intelectual, estar hospitalizado, quebrar a perna e não poder chegar àquela sala de aula que fica no alto da escadaria de uma escola que não tem elevador, entre outros. Necessidades educacionais ou educativas especiais estão, na teoria, à disposição de qualquer aluno, sem obrigatória relação com a deficiência.
Da mesma forma, na Constituição e em todo o aparato jurídico, as pessoas com deficiência são designadas pelo termo “portadores de deficiência”. É, portanto, este termo que deve servir de referência quando usado em tal contexto específico.
Fonte: Mídia e deficiência / Veet Vivarta, coordenação. – Brasília: Andi ; Fundação Banco do Brasil, 2003.
Obs. Essa pesquisa foi realizada em 2003, no entanto os termos incorretos ainda continuam sendo usados com bastante frequência pela mídia. (Nota do Blog)
Veja:
Os midia descriminam? Absolutamente sim. Mas por não nos darem o destaque devido.
Quanto à maneira como se referir a mim tetraplégico, é-me indiferente. Para mim são só palavras, e acho que se preocupam demais com isso. Qualquer dia temos que andar com um manual de instruções, como um electrodoméstico.
Fica bem
Concordo com o Eduardo. Mas ele há de concordar comigo que algumas palavras acabam sendo um tanto "pesadas". Desde palavras pejorativas como "aleijado" ou outras baseadas em conceitos ultrapassados como "inválido".
Sim, CRIPLE. Tentei generalizar. Eu também quero acrescentar que depende muito do contexto, e de quem diz as frases.
Se alguém me estiver literalmente a passar a mão pela cabeça, e a chamar-me coitadinho, não me agradará.
Mas com calma tentarei educar a pessoa, explicando-lhe que não deve agir assim. Educar informando. Também nos compete.
Fique bem
Ficar vitimizando o deficiente realmente não contribui com uma verdadeira inclusão, Eduardo.
Eduardo e Daniel,
Concordo com Romeu Sassaki quando diz que conceitos obsoletos, idéias equivocadas e informações inexatas reforçam e perpetuam preconceitos, estigmas e estereótipos.
Acredito que terminologia correta somente será utilizada pela sociedade, a partir do momento em que o governo respeitar e tratar as pessoas com deficiência e todos segmentos vulneráveis com dignidade.
Agradeço os comentários, meus amigos!
Abraços!
1ª pergunta: Quem é Romeu Sassaki?
2ª pergunta: Será que algum dia o governo vai realmente representar os interesses da sociedade ou continuará eternamente a usar os segmentos vulneráveis apenas para fazer drama populista (caso das cotas para alunos de escolas públicas e negros em universidades)?
Ele é um ativista no movimento das pessoas com deficiência há mais de 40 anos. Ultimamente ele atua como consultor de inclusão e consultor de educação profissional inclusiva. Também ministra cursos e palestras sobre inclusão em todo Brasil. Gosto muito do trabalho dele, Daniel.
Em relação a segunda questão,acredito que todo cidadão deve cobrar constantemente ações do governo, no sentido de resguardar os direitos de todos os segmentos vulneráveis. Não podemos dar folga a nenhum político. Se não for dessa forma, penso que acontecerá o que você disse, eles continuarão eternamente usando os segmentos vulneráveis em interesse próprio.
Gosto muito da sua participação no blog. Obrigada, Daniel!