Vaidosa, musa da natação paralímpica desponta como modelo fotográfica
Aos 21 anos, Camille Rodrigues concilia natação com trabalhos no mundo da moda, quebrando paradigmas: ‘Deficiente não é uma pessoa acabada’
Entende-se por ditadura da beleza um padrão estético pré-estabelecido pelo senso comum. Na contramão de qualquer paradigma, uma atleta paralímpica desponta com uma das desportistas mais bonitas do país. Com a perna direita amputada, a nadadora fluminense Camille Rodrigues já é uma realidade no mundo da moda. Morena, 1,65m de altura e corpo escultural, a nadadora foi convidada para fazer um ensaio para uma loja do Rio após o Mundial Paralímpico de Natação, em Montreal (Canadá). Descoberta por um fotógrafo carioca, ela espera abrir novos caminhos para pessoas com deficiência.
– Acho que as fotos que faço servem para quebrar um paradigma de que o deficiente é uma pessoa acabada que só fica em casa. Esse é o principal objetivo da minha atuação como modelo. Tenho isso mais como um hobby, embora tenha recebido muitos convites para trabalhos – afirmou Camille.
Natural de Santo Antônio de Pádua, no interior do Rio, a nadadora foi descoberta pelo mundo da moda há um ano, quando o fotógrafo Márcio Oliveira a viu nadando em seu clube, a Andef, em Niterói (RJ). Clicada em diferentes poses com diversos figurinos, a morena virou celebridade na internet.
– Meu primeiro ensaio fez muito sucesso, tanto que fui chamada para diversas entrevistas. Mas o mais legal foi ser reconhecida na rua por deficientes que vieram para mim e disseram que passaram a se sentir melhor ao verem o meu ensaio – destacou.
Vaidosa, a atleta não dispensa um salto alto nas saídas. Por conta de uma prótese especial, ela consegue usar o adereço raramente utilizado por pessoas com deficiências nos membros inferiores.
– Recebi essa prótese adaptada do meu patrocinador. Gostei muito, porque agora posso me produzir melhor – ressaltou.
Aos 21 anos, Camille mora sozinha em Niterói. Os pais ficaram em Santo Antônio de Pádua, para onde a nadadora costuma ir nas férias e folgas. Na Andef, a bela conheceu o namorado Thiago Alencar, guarda-vidas de piscina, a quem considera “super gente boa” no que diz respeito ao ciúme.
– Ele leva a minha fama numa boa – resumiu.
Apesar do sucesso no mundo da moda, é da natação que Camille Rodrigues vive. Competindo desde 2007, ela voltará à piscina do Parque Jean-Drapeau neste domingo para a disputa das eliminatórias dos 100m costas categoria S9 – o SporTV transmite todas as finais deste domingo, a partir das 18h (horário de Brasília). Buscando uma evolução no cenário internacional, a nadadora traçou como objetivo estar ao menos na final.
– Ainda não vou brigar por medalha agora, só por final, o que já é uma evolução enorme. Tenho muito a crescer na natação ainda para estar no melhor nível internacional – analisou.
Camille pratica natação desde os quatro anos de idade por recomendação médica. Após ter de amputar a perna direita devido a uma má formação congênita, ela teve de procurar o esporte para paralisar uma atrofia na bacia. Com quatro medalhas no Pan-Americano de Guadalajara, em 2011, ela não imaginava ir tão longe na carreira.
– No início, não imaginava chegar tão longe. Mas, desde que comecei a competir, há seis anos, os resultados foram aparecendo e hoje eu acredito em mim. Meu intuito é continuar crescendo na natação que a minha hora vai chegar – finalizou.
Fonte: Flávio Dilascio, G1